O Conforto de ser Morno
Lucas Barreto Lins
A autoria da crônica O Quase foi atribuída a
Luís Fernando Verissimo, porém, o próprio Veríssimo já desmentiu, a verdadeira
autora é Sarah Westphal.
Não encontrei publicações de livros ou
artigos com a autoria Sarah , mas de qualquer forma quando se fala
sobre O Quase, o que importa não é o
responsável da crônica, e sim, a responsabilidade de nossas atitudes em relação
à reflexão trazida no texto.
Um tema comum em nosso dia a dia: a
falta de oportunidade, a mágoa da decepção de não ter alcançado o que almeja. Repleto
de metáforas o texto nos obriga a ter uma leitura mais profunda. Os versos
decorrem com um tom de incômodo com a desilusão social.
O clímax acontece quando de uma
forma poética é contestado, o porquê de sermos mornos, em relação à vida, as
relações humanas, a frieza presente nas pessoas principalmente nas grandes
cidades.
Esta crônica certamente nos faz
ver o mundo melhor ou no mínimo propõe a reflexão, não é necessário ser um
amante da poesia para ler O Quase, o tema abordado está enraizado na sociedade,
e é fácil a assimilação entre a crônica e o mundo real.
Assim como Escutatória de Rubem Alves. O Quase de Sarah Westphal é uma porta
de entrada a quem deseja ler textos mais poéticos, mas não gostam de linguagens
difíceis. Sem dúvidas, a crônica vem para nos tirar da zona de conforto e
repensar à sociedade e a nós mesmos.
O QUASE
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém,preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.