quinta-feira, 6 de abril de 2017

Resenha: O Quase - Sarah Westphal.

O Conforto de ser Morno

Lucas Barreto Lins

A autoria da crônica O Quase foi atribuída a Luís Fernando Verissimo, porém, o próprio Veríssimo já desmentiu, a verdadeira autora é Sarah Westphal.  

Não encontrei publicações de livros ou artigos com a autoria Sarah , mas de qualquer forma quando se fala sobre O Quase, o que importa não é o responsável da crônica, e sim, a responsabilidade de nossas atitudes em relação à reflexão trazida no texto.

Um tema comum em nosso dia a dia: a falta de oportunidade, a mágoa da decepção de não ter alcançado o que almeja. Repleto de metáforas o texto nos obriga a ter uma leitura mais profunda. Os versos decorrem com um tom de incômodo com a desilusão social.

O clímax acontece quando de uma forma poética é contestado, o porquê de sermos mornos, em relação à vida, as relações humanas, a frieza presente nas pessoas principalmente nas grandes cidades.

Esta crônica certamente nos faz ver o mundo melhor ou no mínimo propõe a reflexão, não é necessário ser um amante da poesia para ler O Quase, o tema abordado está enraizado na sociedade, e é fácil a assimilação entre a crônica e o mundo real.


Assim como Escutatória de Rubem Alves. O Quase de Sarah Westphal é uma porta de entrada a quem deseja ler textos mais poéticos, mas não gostam de linguagens difíceis. Sem dúvidas, a crônica vem para nos tirar da zona de conforto e repensar à sociedade e a nós mesmos.


 O QUASE 

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. 

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. 

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém,preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

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