Alba Atróz é um escritor nascido no bairro de Guaianases, autor das obras Reminiscências, Mil horas sem fim.
Seu mais recente trabalho Virtuose é um romance que aborda o tema da redução da maioridade penal, pela visão do oprimido, (logo terá uma resenha aqui no blog), uma honra de tê-lo como participação na introdução do meu primeiro trabalho com poesia.
UM
SER ESCOLHIDO
Alguém de espiritualidade elevada já disse-me que a
gênese dos grandes poetas acontece por um sopro literário homérico, divino,
semelhante ao descrito em Gênesis 2:7. Tal teoria surge da força da
curiosidade, do querer compreender como é que seres elevados surgem na terra
para aprofundar-nos o entendimento da existência através de seus motes. Lucas
Lins é um desses seres.
Com a objetividade de quem
deseja revelar-nos visões através de versos, a respeito de quem se encontra
martirizado e subjugado, este escolhido nos oferece “Remando Contra a Maré”. Uma
obra preenchida pela inquietude de um garoto periférico diante do opróbrio
humano, exprimindo os mais variados sentimentos que muito cedo o aflige em seu
entorno e o além dos limites impostos à sua gente. Lins detém o poder de
tocar-nos o âmago profundamente, fazendo-nos refletir sobre a natureza humana
através do social e o político com metáforas e intertextualidades que muito
instigam a nossa reflexão. Seus versos é resistência e reverberam da solitude
da alma, das angústias, da vontade de tornar o mundo mais poético e menos
medíocre. A singeleza dos seres que habitam o imaginário de Lins se relacionam
com seu dia a dia na Cidade Tiradentes – em sua escola, em seu lar, em sua
linda e sofrida vizinhança que precisa de carinho, afeto, atenção. Os versos do
poeta exortam o que há de mais sublime nas quebradas e em todo o urbano da
cidade e nos trás a saudade do campo perdido onde ficou Cidade Tiradentes. Enfim, eis, em “Remando Contra a Maré”,
versos questionadores, que enfrentam, que cobram. É o ensejo por mudanças; um
poeta menino expressando suas perturbações em versos que enfrentam o fatalismo
imposto ao povo humilde, um moço em quem é possível encontrar traços da rara
beleza literária, intrínseca somente em grandes poetas, bem como toda uma
manifestação do que é revelado aos que receberam o sopro de Homero - aos
escolhidos da grande arte de expressar-se através de profundas palavras. Tenha
uma boa leitura.
Alba Atróz
31 de agosto de 2016